O resíduo de um é o alimento do outro! O que pode parecer estranho em um primeiro momento se tornou o principal diferencial de uma startup criada em Taubaté, no interior de São Paulo. Conheça a BiotecBlue, que encontrou nas microalgas uma forma de desenvolver biofertilizantes e aposta nas vantagens da economia circular e da tecnologia.
A BiotecBlue foi uma das startups vencedoras do Prêmio de Incentivo à Inovação promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em parceria com o BH-TEC, com o objetivo de impulsionar iniciativas tecnológicas que consigam levar impacto positivo no enfrentamento das mudanças climáticas no estado mineiro.
Através da economia circular, a BiotecBlue mostra como é possível aliar ciência, tecnologia e sustentabilidade para produzir fertilizantes de baixo custo, que, além de benefícios diversos, geram créditos de carbono, aumentam a saúde e a imunidade do solo e reduzem os insumos na produção em até 40%.

Leia abaixo a história dessa iniciativa inovadora.
O início: da sala de aula ao campo
A BiotecBlue surgiu no final do mestrado em biotecnologia marinha de Noreyni Ndiaye. Mais precisamente, durante uma disciplina de empreendedorismo. O desafio do então mestrando era bem objetivo (e amplo): encontrar um problema real do mercado e propor uma solução.
Noreyni, então, escolheu atacar um gargalo na produção de camarão — as doenças que afetam a qualidade do produto e dificultam exportações. A resposta foi um aditivo à base de microalgas, incorporado à alimentação dos camarões, capaz de reduzir o impacto dessas enfermidades.

“Sempre escutei na graduação e no mestrado que tudo tem potencial, mas nunca via nada sendo aplicado. Ainda na área de farmácia: desenvolver um remédio, por exemplo, exige muito tempo e dinheiro. No meio desse impulso, de querer ver acontecer, que me interesse pelo negócio do camarão”, explica o empreendedor.
Mas a ideia não parou por aí.
Com o tempo, a empresa passou a investir no desenvolvimento de biofertilizantes sustentáveis, aproveitando resíduos de tilápia e da produção de cerveja.
Agricultura regenerativa e economia circular
A BiotecBlue atua dentro da lógica da bioeconomia circular, em que o resíduo de uma cadeia produtiva vira insumo para outra. Um dos exemplos é o uso de dejetos de camarão como alimento para as microalgas. Essas microalgas, por sua vez, servem de alimento para os camarões.

O biofertilizante desenvolvido pela empresa é rico em macro e micronutrientes, contribuindo para a regeneração do solo, a redução do uso de químicos e a emissão de créditos de carbono.
“Hoje, o Brasil importa 80% dos fertilizantes químicos que utiliza. O nosso intuito é trazer a autossuficiência agrícola no mercado nacional”, comenta Noreyni.
Hoje, a startup se posiciona como uma aliada da agricultura sustentável, com foco no atendimento de pequenos e microprodutores de milho, hortaliças, café e soja.
Caminho de desafios e inovação
Com uma equipe multidisciplinar composta por biotecnologistas, engenheiro químico, agrônomos e uma professora da Unifesp, a BiotecBlue busca agora:
- Captar recursos e aumentar a exposição nas redes sociais
- Conectar-se com políticos alinhados com o produto para captação de recursos
- Escalonar a produção, ter um local próprio e registrar o produto
Apesar de ser pioneira no mercado de microalgas no Brasil, a startup ainda enfrenta dificuldades típicas de quem propõe rupturas tecnológicas.
Impulso
Em busca de alcançar um próximo patamar, a BiotecBlue enxerga no programa coordenado e executado pelo BH-TEC a oportunidade ideal.
“A gente já vinha testando a tecnologia com produtores em São Paulo, mas de forma limitada. Esse prêmio e o programa do BH-TEC estão sendo decisivos para tirar do papel e escalar nossas soluções”, afirma o fundador, Noreyni Ndiaye.
Além disso, a participação da BiotecBlue no programa foi determinante para amadurecer estratégias e conectar a startup com novas oportunidades, através de networking, capacitações e mentorias.
“O programa está sendo muito importante justamente para impulsionar essa aceleração. Os workshops e as mentorias estão sendo muito interessantes e muito pontuais pra gente”, avalia Noreyni.