Existem soluções sustentáveis para a crise mineral? A pergunta norteou o debate no início da tarde desta sexta-feira, 30, segundo dia do Congresso de Inovação e Sustentabilidade (CIS 24). Tema significativo para Minas Gerais, uma mineração que seja sustentável é um dos grandes desafios, segundo especialistas que participaram da mesa.
Minerais finitos x consumo
A professora da UFMG Glaura Goulart, lembrou as tragédias ocorridas em Minas nos últimos anos devido à mineração e destacou desafios, principalmente o fato dos recursos minerais não serem renováveis. “Os suprimentos são finitos e os impactos na sociedade, no ambiente, nas comunidades, são significativos”, afirmou ela, que é uma das coordenadoras do CTNano. Ao mesmo tempo, segundo ela, o padrão de consumo para ter qualidade de vida hoje depende dos minerais.
“A pobreza em materiais é um fator crítico para a pobreza humana real. O ser humano quer ter moradia, vestimentas, acesso à informação, educação, saúde, todos os padrões de qualidade de vida que entendemos que deveriam ser permitidos a todas as comunidades, mas ele pressiona um uso cada vez maior de minerais e materiais avançados”, explicou. Para ela, a solução sustentável para a mineração é encontrar meios de recuperar, reciclar o que já foi extraído.
Novo olhar da siderurgia
Plásticos, pneus, concreto, tintas são apenas algumas das soluções em larga escala com uso na nanotecnologia. Valdirene Peressinotto, da Gerdau Graphene, mostrou os estudos e aplicações com o grafeno para inserção de produtos no mercado que tenham impacto minimamente o ambiente em sua cadeia de produção. “A siderurgia está olhando para o nanomaterial”, disse.
Atração de investimentos
Com reservas minerárias expressivas, o Estado de Minas Gerais tem relevância global na mineração de ferro e ouro. Segundo Henrique Tavares, da Invest Minas, que é a agência de promoção de investimentos do governo do Estado, a partir do Vale do Lítio, Minas se tornou um grande hub de materiais estratégicos, como nióbio, grafite e terras raras, a exemplo da argila iônica.
“Temos a tradição da mineração e temos que trabalhar para aproveitar essas oportunidades para que o Estado seja protagonista na transição energética”, disse Henrique.
Um olhar do território
Rossandro Ramos é professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro e mineiro de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, onde atua também no Jequitinhonha Lithium Valley. Para o debate sobre o futuro da mineração, ele trouxe um olhar do território. “Para desenvolver projetos minerários é preciso desenvolver o território”, afirmou.
Quando o Vale do Lítio foi implantado, abrangendo 14 municípios do Norte e Jequitinhonha que abrigam a maior reserva nacional de lítio, ele criou um evento para fomentar o ambiente de negócios e gerar conhecimento para a população. Sobre mineração, ele contextualiza: “Trabalho na perspectiva da mineração responsável – e não a sustentável. Que as empresas tenham integridade, capacidade de gestão do legado positivo que vai deixar no território, tenham responsabilidade social e ambiental.”
Mineração e emergência climática
O enfrentamento à emergência climática e a busca pelo cumprimento do Acordo de Paris, segundo Julio Nery, diretor de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), passam pela expansão da extração e uso de bens minerais. “Precisamos no Brasil de um ambiente que favoreça a indústria, ter boa infraestrutura e segurança jurídica”, disse ele se referindo ao cenário da mineração no país.