Um pigmento roxo, produzido por bactérias e carregado de multifuncionalidade. Essa é a grande aposta da Aiper, startup que nasceu da inquietação de um designer de moda diante da poluição da indústria têxtil. Hoje, a empresa desenvolve um bioinsumo inovador com potencial para revolucionar desde o agronegócio até os cosméticos.

“Ao substituir químicos por nosso produto biológico, o agricultor já está contribuindo para mitigar as mudanças climáticas, preservar a biodiversidade local e proteger sua própria saúde e a do solo”, destaca Ailton Pereira, diretor-executivo da Aiper.
A startup foi uma das contempladas no Prêmio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para soluções voltadas à crise climática, promovido em parceria com o BH-TEC, responsável pelo programa de aceleração.
Confira agora a história da Aiper!
Do design de moda à biotecnologia: uma trajetória fora da curva
A história da Aiper começa com a transição de Ailton Pereira do universo do design de moda para o campo da biotecnologia. Seu projeto de mestrado, iniciado durante a pandemia, buscava desenvolver alternativas menos poluentes para a indústria têxtil.
O foco inicial era a criação de um pigmento natural produzido por bactérias — mas, ao aprofundar os estudos científicos sobre o microrganismo Janthinobacterium, Ailton descobriu um leque muito maior de aplicações.
“Foi um choque sair do design e cair num laboratório de biotecnologia, mas me apaixonei pela área. Fui o único da turma sem formação prévia em ciências biológicas, o que exigiu um esforço redobrado”, relembra.

Com apenas duas semanas de aulas presenciais antes do isolamento causada pela pandemia, ele precisou se adaptar rapidamente à nova rotina. O laboratório da sua orientadora — que ficou inteiramente à sua disposição — virou sua segunda casa.
“Só eu usava. E aí era a minha segunda casa. Foi onde eu me debrucei de forma muito mais intensa para realmente conseguir acompanhar os outros colegas, colocar a mão na massa, ver os experimentos acontecendo, entender como funciona essa parte do metabolismo da bactéria e todo o processo”, reforça Ailton.
Uma solução, múltiplas aplicações
O produto desenvolvido pela Aiper é resultado de um processo de fermentação biotecnológica com bactérias que produzem um pigmento roxo com propriedades bioinseticidas, antimicrobianas e antifúngicas. Ou seja, além de colorir — alimentos, cosméticos, plásticos, tecidos e mais — o produto também atua como agente de proteção contra pragas e microrganismos.
Hoje, a startup faz a aplicação do produto como bioinsumo para o agronegócio, oferecendo uma alternativa sustentável ao uso de defensivos químicos.
No campo, a primeira aplicação
Durante o programa de pós-aceleração do BH-TEC, a Aiper pôde dar um passo além do laboratório. Em uma propriedade agrícola em Araguari, no Triângulo Mineiro, a equipe testou o produto em plantações de café.

“Foi a primeira vez que vimos o nosso produto sendo aplicado em uma lavoura real. Foi um divisor de águas. No campo, surgem as perguntas certas e as respostas mais valiosas” exalta o diretor-executivo da Aiper, antes de complementar:
“A experiência do programa nos tirou do ambiente controlado e nos colocou frente a frente com os desafios práticos da agricultura. Ver a receptividade do produtor, o comportamento do produto na plantação e o impacto direto foi muito enriquecedor”.
Reconhecimento e expansão
Ficar entre os premiados no edital da ALMG foi uma surpresa gratificante para Ailton e sua equipe — especialmente por terem conquistado a segunda melhor nota entre as propostas inscritas.

“A gente ficou super surpreso e muito feliz. Foi um reconhecimento importante que validou não só a nossa ideia, mas o potencial real do nosso produto. A gente vinha com uma visão voltada para a área têxtil, mas o prêmio abriu portas para enxergar o agro como um mercado gigantesco. Isso ampliou muito nossa perspectiva”, comenta Ailton.
O que vem por aí

A Aiper agora busca conexões com biofábricas no Brasil e no exterior para escalar sua produção, além de novos fomentos que permitam ampliar a estrutura laboratorial e contratar mais profissionais. O objetivo é viabilizar novas linhas de produto e consolidar a entrada no mercado.