Transformar resíduos orgânicos em fertilizantes sustentáveis, combater a crise climática e ainda gerar economia para pequenos produtores. Parece ousado? Para a startup BeFert, esse é o dia a dia. Unindo ciência, inovação e impacto ambiental positivo, a empresa encontrou nos insetos – mais especificamente nas larvas da farinha – o caminho para regenerar solos e oferecer mais resiliência climática à agricultura familiar.


“Nosso objetivo sempre foi usar a biotecnologia para criar soluções reais, acessíveis e sustentáveis. A crise climática é urgente, e o pequeno produtor é quem mais sente seus efeitos. Queremos estar ao lado deles com produtos que realmente façam a diferença”, afirma Kaio Sardinha, CEO da empresa.
De pesquisa universitária à vida real: os primeiros passos da Befert
A BeFert começou como um projeto de pesquisa e extensão dentro da Universidade Federal de Uberlândia, em 2017. A proposta inicial envolvia a criação de insetos como ferramenta de desenvolvimento de insumos agrícolas.
Entretanto, o que começou nos laboratórios da universidade, ganhou força quando passou a se conectar com a realidade dos pequenos produtores rurais.
“Foi um processo natural. Começamos dentro da academia, mas já com o olhar voltado para o impacto prático. A transição para o mercado veio em 2022, quando formalizamos a empresa e iniciamos a operação oficial”, conta Kaio.
Soluções sustentáveis para um agronegócio mais resiliente
Hoje, a Befert atua no desenvolvimento de biofertilizantes e substratos para plantas produzidos a partir do excremento de insetos. Funciona assim: o processo começa com a coleta de resíduos de indústrias alimentícias – farelos de trigo, milho e soja que seriam descartados.
Esses resíduos se transformam em alimentação para as larvas do tenébrio molitor (larvas da farinha). Durante a digestão, esses insetos realizam uma espécie de compostagem e geram um resíduo rico em nutrientes, que é transformado em insumos agrícolas.

“A gente trabalha com as causas e consequências da crise climática. De um lado, buscamos mitigar os impactos negativos do agronegócio tradicional. De outro, queremos aumentar a resiliência do pequeno produtor frente às mudanças extremas do clima”, explica o CEO.
O resultado é um produto mais sustentável, que favorece a produtividade, reduz custos e ainda preserva o meio ambiente.
Um mercado tradicional, uma proposta disruptiva
Em um setor historicamente dominado por grandes indústrias e práticas convencionais, a proposta da BeFert não deixou de enfrentar resistências. A inovação exigiu persistência e superação de obstáculos, especialmente financeiros.
“Desenvolver uma solução de base tecnológica exige muito investimento, especialmente quando ela rompe com o que o mercado está acostumado. Convencer sobre os benefícios de algo novo é um desafio constante”, reconhece Kaio.

Ainda assim, o diferencial da BeFert está justamente nessa disrupção: entregar um produto que pode ser até 20% mais barato que os concorrentes diretos, sem abrir mão de qualidade ou impacto positivo.
Reconhecimento e conexões: o impacto do prêmio e da aceleração
Recentemente, a startup foi contemplada no Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação – Crise Climática, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O reconhecimento ajudou a reforçar a credibilidade da empresa e a divulgar a solução desenvolvida.
“O prêmio trouxe visibilidade e também uma validação institucional muito importante. Isso ajuda a abrir portas, conquistar novos clientes e fortalecer a nossa base”, destaca o fundador.
Além disso, a BeFert participa do programa de pós-aceleração do BH-TEC, o que tem ampliado conexões e gerado oportunidades.

“O BH-TEC tem sido fundamental para a nossa jornada. Participamos de outros programas, mas a estrutura, os workshops e as conexões com empresas e instituições aqui têm sido extremamente valiosas. A rodada de negócios, por exemplo, gerou contatos que já estão se transformando em parcerias reais”, diz Kaio.
Próximos passos: expansão, novos mercados e mais impacto
O futuro da BeFert é promissor. A startup planeja expandir sua infraestrutura de produção e consolidar sua presença no mercado de nutrição vegetal. No médio e longo prazo, já vislumbra também a entrada em novas áreas, como nutrição animal e até humana.
“A gente quer consolidar nossa solução no campo, mas também ampliar nosso alcance. Já temos pesquisas em andamento para novas aplicações. O foco continua sendo o mesmo: gerar impacto positivo real, tanto para os produtores quanto para o meio ambiente”, conclui Kaio.